Com o fim do 33º Congresso Nacional dos Jornalistas, em São Paulo, onde delegados e estudantes, além de observadores, se propuseram a discutir e encaminhar as principais frentes de ação contra as investidas dos barões da mídia, num balanço imediato, fica claro que a categoria não está articulada e mobilizada como deveria, não está qualificada politicamente e não tem, portanto, bala na agulha necessária para fazer o enfrentamento de igual para igual com o patronato.
Falta, sobretudo, a percepção essencial nessa luta: os jornalistas não se enxergam, na integralidade dessa concepção, como trabalhadores. E fazem um discurso dissimulado, e que soa falso ao bom observador, quando se dizem trabalhadores. E soa falso porque isso não está introjetado.
Agostinho Neto, médico, angolano, militante nas lutas independentistas das nações africanas, principalmente na década de 40, herói negro, poeta mais intenso durante as muitas prisões que sofreu na militância, agudiza esse fato. "Não basta que seja pura e justa a nossa causa, é necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós".
Não se perceber como trabalhador, isso parece, a princípio, uma impossibilidade, diante da precarização no exercício do jornalismo, das horas extras nunca pagas, da pressão incessante nas redações, da desqualificação cotidiana de chefes cretinos, do assédio moral, do estágio desregulamentado, dos salários achatados, da coação política e ideológica de sempre. Na lógica capitalista, não é assim? É.
Mas, se a categoria sente a precarização na pele, por que não reage a altura? Por que não assume o papel operário, por que não se alia às demais categorias de luta, por que apenas chora no banheiro das empresas ou reza em casa quando vai dormir para não perder o emprego, ou por que se basta na indignação verbal do xingamento ao vento?
A categoria está sendo ludibriada, e usada como força bruta, nos moldes dos remadores dos porões de navios romanos, escravizados, há 18 séculos.
18 séculos!
Se a categoria está ludibriada, e acossada, seria então por isso que não se percebe como trabalhadora?
Por que se alivia fazendo apenas a luta corporativista? Será que não enxerga o irmão esfomeado ao lado? Será que não percebe a afronta aos professores? Será que precisa ainda de argumentos para entender a urgência da reforma agrária?
Tem um mistério a ser desvendado nesse contexto: a luta de classes. Um mistério a ser revelado àqueles que ainda não perceberam, de coração, a necessidade de fazê-la. E a cada dia que este embate não é feito avançam as ofensivas contra os trabalhadores, sobretudo os que não se percebem assim.
Daí a grande luta que precede todas as outras: tocar corações, para mobilizar.
De novo surge o coração, como músculo involuntário que pulsa não apenas sangue, mas luta. A melhor de todas as lutas, aquela movida pelo sentimento de amor, como internacionalizou Che Guevara.
Em artigo – "Se sindicalizar pra quê?" - divulgado no site do NPC (Núcleo Piratininga de Comunicação – www.piratininga.org.br), Vito Giannotti afirma: "Hoje o sindicato é mais necessário do que nunca". E avisa: "Sem sindicatos estaríamos trabalhando ainda 16 horas por dia".
Quem conspira contra os trabalhadores, 24 horas por dia – sim, porque a direita histórica é incansável – é o abutre que nos ronda. E coopta nossos parceiros, afundados no discurso da vida pequeno burguesa: formar, casar, ter filhos, casa, carro, shopping, viagens. Deixar o amor pelo caminho, em troca de esmolas, é coisa bem provável.
Analisando Che, de forma pragmática, endurecer sem perder a ternura não é tarefa tão fácil assim. Fácil de falar. Difícil de permitir que essa mensagem, de amor e luta, exista dentro de nós. De fato.
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