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segunda-feira, 16 de março de 2009

A UNE somos nós?

O joio e o trigo

Num artigo da presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) intitulado “Ontem e hoje: UNE em defesa da educação e contra a criminalização dos movimentos sociais”, postado no site da entidade, quando afirmou que “nesta semana os movimentos sociais estão sofrendo um verdadeiro ataque midiático, com pouca fundamentação, muita especulação e, especialmente, uma forte carga de intenção em desacreditar os lutadores e lutadoras do povo brasileiro”, a intenção é fazer acreditar que UNE, MST e centrais Sindicais estão em pé de igualdade na defesa dos interesses dos seus representados, na defesa da democracia e da justiça social e no tom das críticas recebidas da imprensa. Qual luta a UNE empreendeu nos últimos seis anos em defesa do povo brasileiro? A luta tem sido intransigente na defesa dos interesses pessoais do grupo majoritário que coordena a UNE (leia-se PC do B). E não é em benefício do povo brasileiro. A UNE deveria estar comemorando por existir pouca ação do Poder Judiciário para reaver os recursos públicos utilizados de forma tão mesquinha pela entidade. Ou por sair apenas uma crítica ali, uma pequena matéria acolá e haver a insatisfação silenciosa de milhões de brasileiros/as que estão pagando uma conta tão alta para beneficiar tão poucos.

É notório que o governo Lula está liberando recursos do povo para a UNE sem critérios públicos, mas pessoais e partidários. Por qual motivo que outras entidades estudantis, grupos juvenis ou projetos de jovens populares nada recebem? Criticar a imprensa é o modo mais mesquinho e covarde, principalmente se apoiando na luta do MST que, com todos os seus problemas e dificuldades, não se vendeu ou abandonou por completo as suas bandeiras históricas e a sua base de representados, como a UNE fez nos últimos anos. Vamos separar o joio do trigo.


É mentira que a UNE não se calou. No caso de Renan Calheiros, que saiu quando quis da Presidência do Senado e agora voltou aí como o grande nome da República brasileira, a UNE não emitiu sequer uma notinha exigindo apurações. Outra mentira é em relação à Caravana UNE Saúde. Utilizou-se mais de R$ 2 milhões da verba da saúde pública para a promoção publicitária da UNE, que nada adiantou, pois a caravana da entidade foi expulsa de diversas universidades por que passou sob o grito de "pelega", "chapa-branca", "parasita" e "traidora". Era muito mais gente protestando com faixas e fantasiados de palhaços que participando. Portanto, ao dizer que a UNE estava "debatendo com mais de 1 milhão de estudantes assuntos como drogas, sexualidade, SUS e saúde pública", a má-fé encontrou aí o seu auge, sem falar na falta de transparência no uso de recursos públicos.


A presidente "esqueceu" de responder o fundamental: os milhões de reais com a "intenção" de resgatar a história do movimento estudantil em vários projetos desde 2004. Projetos superfaturados, que não possuem interesse público, que mais celebra o esquecimento e instrumentalização política da história em atividades nada transparentes e que utilizam criminosamente dinheiro público para a promoção de pessoas do grupo majoritário da entidade. Se fôssemos nos basear na UNE para resgatar a história dos movimentos estudantis e juvenis, seriam bilhões de reais que necessitariam ser utilizados nesse setor, o que alguns poucos mil reais já seriam suficientes para que as universidades façam muito e com um padrão de qualidade, de credibilidade e de rigor superiores pelo que tem sido apresentado pela UNE.

Mesmo com um orçamento que representa 0,0001% do que a UNE e o seu grupo majoritário utiliza com a pseudojustificativa de resgatar a memória dos movimentos estudantis, o nosso projeto irá continuar produzindo livros e eventos importantes para a história e a sociologia dos movimentos juvenis visando o interesse público, cuja produção supera não só em números, mas em relevância e em qualidade, o que a UNE finge fazer.


(por Otávio Luiz Machado,
Jornal do Commercio, 13/03/2009 - Recife PE ).

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